segunda-feira, 27 de junho de 2011

DRUMMOND

MUITOS DESSES POEMAS SERVIRAM DE BASE PARA UMA TESE SOBRE
O EROTISMO DRUMMONDIANO.
O POETA OPTOU POR GUARDA-LOS EM SEGREDO, CONFIANDO A SEUS
HERDEIROS A TAREFA DE PUBLICA-LOS APÓS SUA MORTE.

SEM TITULO

Ao delicioso toque do clitóris,
ja tudo se transforma, num relâmpago.
Em peguenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentram.

Vai a penetração rompendo nuvnes
e devassando sóis fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da propria vida,
Como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.


CARLOS DRUMMOND ANDRADE.

domingo, 26 de junho de 2011

PARA O SEXO EXPIRAR

Para o sexo expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor,- o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.

Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada,

Amanhã nunca mais. Hoje mesmo quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.

Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sêmen aljofrando o irreparável ermo.

CARLOS DRUMMOND ANDRADE.

SOB O CHUVEIRO AMAR

Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo-é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?

CARLOS DRUMMOND ANDRADE.

sábado, 25 de junho de 2011

A LINGUA

A lingua Francesa
desvenda o que resta

(a fina agudeza)
da noite em floresta.

Mas sem esquecer,
num num lance caprideo,
a arte de Ovidio.

Á MEIA NOITE, PELO TELEFONE.

´Á MEIA NOITE, PELO TELEFONE,
CONTA-ME QUE É FULVA A MATA DO SEU PÚBIS
Outras noticia
do corpo não quer dar, nem dos seus gostos.
"Se você não vem pepressa até aqui
nem eu posso correr á sua casa,
que seria de mim até o amanhecer?"

Concordo, calo-me.

CARLOS DRUMMOND ANDRADE.

NO MÁRMORE DE TUA BUNDA

No mármore de tua bunda gravei o meu epitáfio.
Agora que nos separamos, minha morte ja não me pertence.
Tu a levaste contigo.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.